terça-feira, 30 de agosto de 2011

Repúdio ao 4%!!!

Abaixo-assinado

CARTA DE REPÚDIO AO ACORDO MPOG 04/2011 DE 26/08/2011

Para:Presidência da República,

MPOG, ANDES-SN e PROIFES

CARTA DE REPÚDIO AO ACORDO MPOG 04/2011 DE 26/08/2011


Pela primeira vez na história da República Brasileira, os professores precisam convencer não apenas os governantes dos seus valores e esclarecer suas importâncias, mas também às suas próprias Centrais Sindicais signatárias do Acordo MPOG 04/2011.

Independente de interesses pessoais ou bandeiras político-partidárias defendidas, os docentes que concordam com essa carta sinalizam que o País está permeando por uma oportunidade de revitalizar a Educação Nacional, contudo, isso passa, inexoravelmente, por maior valorização do profissional acadêmico.

Aceitar uma proposta de reposição de 4%, considerando a inflação do período em questão, e a futura equiparação salarial com os servidores do Ministério de Ciências e Tecnologia de forma verbal, traz à tona uma triste, seca e preocupante realidade: não estamos valorizando a Educação, tampouco fortalecendo. O futuro será conforme os cálculos previstos: Instituição Federal de Ensino NÃO será sinônimo de qualidade.

Mesmo com intenso sentimento de angústia, sentimo-nos fortes quando lembramos que a Educação é formada, executada e sobrevive exclusivamente pelos professores, e não por Centrais Sindicais ou semelhantes; lembrança essa que nos faz reverberar nossos anseios por diversos meios midiáticos com artifícios de paralisação de atividades letivas e explicações perenes aos discentes e comunidade sobre os fatos.

A data 26 de agosto de 2011 será esquecida da História da Educação, enquanto o dia 1º de setembro do mesmo ano será lembrado como o dia em que os professores fizeram uma paralisação Nacional em forma de repúdio ao Acordo 04/2011; a fim de fortalecer a Educação Nacional, sinalizando, ainda, que os professores podem formar opiniões de formas clara, rápida e objetiva; bem como efetivar perspectivas de indicativo de greve pelas bases, independente de interesses pessoais.

Os signatários


Que é isto, o valor?

A crítica do cartunista Quino sobre os valores da educação atual.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O que é isto, a ilusão?


Ilusión

Marisa Monte & Julieta Venegas

Uma vez eu tive uma ilusão
E não soube o que fazer
Não soube o que fazer
Com ela
Não soube o que fazer
E ela se foi
Porque eu a deixei
Por que eu a deixei?
Não sei
Eu só sei que ela se foi
Mi corazón desde entonces
La llora diario
No portão
Por ella
No supe que hacer
Y se me fue
Porque la dejé
¿Por que la dejé?
No sé
Sólo sé que se me fue
Sei que tudo o que eu queria
Deixei tudo o que eu queria
Porque não me deixei tentar
Vivê-la feliz
É a ilusão de que volte
O que me faça feliz
Faça viver
Por ella no supe que hacer
Y se me fue
Porque la dejé
¿Por que la dejé?
No sé
Sólo sé que se me fue
Sei que tudo o que eu queria
Deixei tudo o que eu queria
Porque não me deixei tentar
Vivê-la feliz
Sei que tudo o que eu queria
Deixei tudo o que eu queria
Porque no me dejo
Tratar de hacerla feliz
Porque la dejé
¿Por que la dejé?
No sé
Sólo sé que se me fue

(Para quem pensa que esgoelar é sinônimo de cantar, aqui o exemplo de uma música que nunca, nunca deveria terminar).

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Meus filhos que estão na Terra*

Wilson Correia

Eu acompanho vocês
...
Meus Filhos que estão na Terra e se encontram em Honduras: vejo-os, crianças miseráveis, disputando com os abutres as sobras do lixo recolhidas em aterros sanitários de suas cidades, tirando dessa imundície quaisquer coisas para alimento próprio ou para a venda a quem manifeste a disposição de mercadejar com o imprestável. Sou testemunha de que seus corpos estão raquíticos e que nesse esqueletismo seu espírito não pode vicejar.

Meus Filhos que estão na Terra e se encontram na Colômbia: percebo vocês pouco vividos nas garras da prostituição, igualando-se a milhões de crianças prostituídas por quem deveria proteger-lhes a dignidade ao redor do mundo. Ao contrário disso, milhões de vocês, a cada trezentos e sessenta e cinco dias contados, são traficados e vendidos como mercadorias de somenos. Conheço esse drama pelo qual passam e sei vocês ultrajados nas vísceras e no espírito.

Meus Filhos que estão na Terra e se encontram na Índia: vejo-os, pequeninos, quebrando pedras em troca de notas miseráveis que mal dão para o leite consumido esporadicamente. Vocês integram o número de crianças que soma quase duzentos e vinte milhões em todo o mundo, as quais têm que trabalhar de algum modo para não caírem mortas de inanição. Trabalham muito! Chegam a uma jornada de dezessete horas por dia e o fazem sob condições lastimáveis, desempenhando as mais perigosas atividades. Não ignoro a cruz existencial sob a qual estão pregados e sei os pregos da miséria a lhes rasgarem a mente e o coração.

Meus Filhos que estão na Terra e se encontram no Afeganistão: vocês vivem há não mais que meia dúzia de anos e já os vejo refugiados da guerra, metidos em trabalhos forçados nas fábricas de tijolos, os quais viram seguidamente para se tornarem secos sob o sol que eu quero igual para todas as criaturas, mas é causticante para vocês, levinhos, pisando esses tijolos de modo a não quebrá-los. Eu sei a dor a lhes torrar a alma e a sola dos pés.

Meus Filhos que estão na Terra e se encontram no Paquistão: eu os vejo disputando migalhas de carvão perdidas pelos carros da Cruz Vermelha ao longo das estradas. Trabalho não existe para seus adultos. A alimentação que têm é precaríssima. Suas necessidades básicas gritam roucamente em meus ouvidos e estão sempre a zero. Suas famílias inteiras definham diante de mim. Eu sei a fome a lhes animalizar e lhes queimar o estômago.

Meus Filhos que estão na Terra e se encontram nos Estados Unidos da América do Norte: assisto a vocês, filhos de pobres drogados, catando latinhas nas ruas, entregues a trabalhos destinados aos adultos. Vocês mancham o esplendor da maior riqueza nacional do planeta e eu sei o que lhes entorpece a alma, o coração e os passos frágeis por sobre os dias. Sua dimensão anímica se reduz a comandos instintivos de defesa ou fuga, e mais esse vexame eu tenho que testemunhar.

Meus Filhos que estão na Terra e se encontram no Brasil: país do vale tudo e onde tudo é possível; país da mentira, da política dos faz-de-conta, da lábia falaciosa, do levar vantagem em tudo, da maldade institucionalizada, da cegueira confessa, do não sei que simula e dissimula, do silêncio covarde, do acinte, da corrupção, do jeitinho para tudo e da falta de vergonha na cara... aí vocês crianças vivem premidas pela exploração sexual, movidas pela necessidade de obterem alguma renda, sem saírem da miséria, vocês têm nos próprios pais os seus negociadores. Vocês se vendem por míseros centavos e se entopem de cola e outros ópios para não testemunharem a própria degradação, mesmo antes de terem experimentado a vida. Nas ruas vocês são contados aos milhões, sem família, e tendo de praticar seguidos furtos para continuarem de pé. Vejo-os, crianças, aos bandos e ao relento nos espaços públicos, nos prédios abandonados, debaixo dos viadutos, nos terrenos baldios e nas encostas dos morros marginais de suas cidades. O que fazer com as fomes de vocês? Eu sei que seus corpos são o único recurso de que dispõem e sei esse sacrilégio a lhes marcar a pele e a lhes destroçar o mundo subjetivo e a identidade ainda em promessa.

Meus Filhos que estão na Terra, espalhados por todo o globo, santificadas sejam a vida e a existência de vocês.
Venha a mim o martírio cotidiano a que são submetidos, diuturnamente.
Seja feita a vontade daqueles que integram o um por cento de todos os meus filhos humanos no mundo que detêm nas mãos a metade de toda a riqueza produzida pela humanidade, na forma de bens que deveriam ser empregados para evitar a via-crúcis atestada acima, mas cuja negação e falta criam-lhes o pior dos infernos possíveis. E dele não podem escapar.

O meu pão de cada dia me dêem hoje, na forma de entrega, pedidos, orações, gritos, gemidos, desamparo, abandono, miséria, pobreza, fome, maus-tratos, tortura, sevícia, exploração, lamentos, lamúrias, doenças, ignorâncias verbais e de atos, sentimentos e pensamentos, violência, soluços e lágrimas, pois é dessas coisas que me faço, com base nisso existo, perduro no tempo e sou.

Perdoem a ofensa que lhes perpetro com meu silêncio, meus braços cruzados, minha ausência, minha omissão e minha indiferença, a tudo assistindo e em nada intervindo, assim como perdôo os dominantes que lhes tratam como gado vendaval, animais, coisas e nulidades cruas.
...
Não me façam cair na tentação de vocês que é a de me esquecer, porque se isso se der eu evaporarei, e isso será o meu mal, esse que já conhecem na própria carne e no próprio sangue, o igual, o mesmo e sempre derramado continuamente por mim desde aquele que um dia foi pregado vivo no madeiro.
...
Amém.

______
*Crônica publicada no espaço "Veneno Crônico" do sítio "A Garganta da Serpente", em 22/12/2006.


 

domingo, 14 de agosto de 2011

Pai

Imagem: espiritosolido.blogspot.com



Ê Meu Pai

Raul Seixas

Composição:
Raul & Cláudio Roberto

Ê, meu pai
Olha teu filho meu pai

Ê, meu pai, olha teu filho meu pai refrão
Ê, meu pai, ajuda o filho meu pai

Quando eu cair no chão segura a minha mão
Me ajuda a levantar para lutar

Se o medo da loucura nessa estrada escura
Me afastar da luz que me conduz

Se eu me sentir sozinho ou sair do caminho
E a dor vier de noite me assustar

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Cinismo também se aprende: respeite o professor


Wilson Correia*

O mundo anda maluco, minha cara. Mas como tenho que dizer algo fundamental, anote aí: preze a educação. A educação não é tudo, mas é a trilha sobre a qual desliza nossa existência.
Isso eu aprendi ainda em criança. “Respeite os mais velhos! Respeite os de fora da família! Respeite o professor!”. Hoje tenho a sensação de que os “mandamentos” são outros: “Achincalhe os mais velhos! Estranhe os de fora! Soque o professor!”.
Minha cara, não queira ver aí um saudosismo purista pequeno-burguês. Não é isso o que intento. Minha intenção é mostrar que se não se aprende, nem se ensina, a legitimação do outro, o reconhecimento da humanidade particular e própria fica comprometida.
Cuidado! Cinismo também se aprende! E, nisso, as lições atitudinais, comportamentais e gestualizadas são, de longe, muito mais poderosas do que uma simples vocalização professoral. Quero dizer que o exemplo ainda vale mais do que a palavra.
E vale, minha cara! Quando a voz diz “Respeite o professor”, mas o tratamento dirigido a ele se resume a um pisão, aprendemos a pisar, o cinismo de dizer uma coisa e fazer outra. E embarcamos na dualidade do descaro de um idealismo inócuo, contraposto em nos mesmos pela objetividade de um realismo cru, nu e cruel.
Não é o mundo que é louco, minha cara! Nós, os humanos é que somos malucos. Agora mesmo, desde que os professores universitários das universidades federais iniciamos nosso movimento em prol de uma carreira mais dignas, as ditas “autoridades”, tratam os professores como se fossem coisas procrastináveis, algo que “eu tiro da minha frente”, “Zes Ninguém”.
Isso é realismo cru, minha cara. O parceiro gêmeo do idealismo cínico. No discurso que verbalizam todos os dias, não há um só político que não louve o respeito ao professor e à professora. Porém, na prática, age como se fosse dono da vida e da morte do professor e da professora. Tomam decisões como se o dinheiro do povo que têm a missão e o dever de administrar, e bem, como se próprio fosse. Portam-se como verdadeiros mestres ao dispensarem lições exemplares de como idealizar uma coisa e viver outra.
Ah!... As entidades representativas dos professores estão partidarizadas, dirá você. Por acaso apenas “as entidades representativas dos professores” é que têm endereços eletrônicos, telefones, endereços? Em lugar de marcar reunião apenas para agendar outro encontro, no acinte de não conversar a sério e apenas embromar, levar com a barriga e escarnecer dos professores e professoras, por que não chamar os professores mesmos para as mesas de negociação?
Há muita gente séria que ainda deseja levar as coisas a sério. É com esses que “as autoridades” governamentais” devem conversar quando desejam tomar alguma medida consequente. Que as “entidades representativas dos professores” se alimentem do próprio monstro que criaram chamada representatividade. E que se engalfinhem por cargos e mais cargos em sua luta insana em meio ao jogo de poder que eles próprios alimentam.
De nossa parte, minha cara, que cuidemos das coisas que realmente interessa. Se estamos vivos, temos que viver, brincar, nos divertir. Não dá para entrar nessa furada de cada um morrer um pouco a cada embate e semear a morte por onde vai.
Façamos o pacto da vida-vida, do ganha-ganha e do alegria-alegria. A vida é um respiro e precisamos aprender a purificar o nosso ar.
Respeitemos o professor, minha cara! Cinismo também se aprende –e, o pior, também se ensina.

*Wilson Correia é Adjunto em Filosofia da Educação no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Manifesto "Slow Science"

Colegas,

Enncontra-se on line o Manifesto "Slow Science". Faz a crítica à "Fast Science". Essa que nos quer submetidos e que privilegia a quantidade em detrimento da qualidade.

O movimento tem origem em universidades francesas, mas, quando lemos, o manifesto reconhecemos esse processo global ao qual estamos todos submetidos.

O manifesto pode ser conhecido - e assinado - mediante acesso ao endereço:


Abraços,

Wilson.

Segue texto do manifesto


“Chamada*

Movimento por uma ‘ciência sem pressa’

Pesquisadores, professores e pesquisadores, temos que correr para ir devagar! Libertar-nos da Síndrome de Rainha Vermelha! Não vamos querer correr mais rápido e mais rápido, em última instância, ficar parado, se não o inverso! Como o movimento Slow Food, Slow, ou de viagem Slow City, chamamos para criar a Ciência Slow.

Olhar, pensar, ler, escrever, ensinar leva tempo. Desta vez, fizemos mais ou menos. Nossas instituições e além, a pressão da sociedade para promover uma cultura de imediatismo, de urgência, a produção em tempo real, magra, projetos que estão ocorrendo a um ritmo crescente. Tudo isso é feito não só à custa de nossas vidas - a cada colega que não está sobrecarregado, estressado, "overbooking" passa hoje por original, apáticos ou preguiçoso - mas em detrimento da ciência. Ciência rápida, como Fast Food, favorece à quantidade sobre a qualidade.

Nós multiplicamos os projetos de pesquisa para tentar dinamizar nossos laboratórios, o que muitas vezes nos leva a chorar a pobreza. Resultado: acabamos de completar o desenvolvimento de um programa que, por mérito ou por acaso, recebeu uma doação, é preciso considerar a reunião imediatamente para o próximo concurso, ao invés de nos dedicar inteiramente ao primeiro projeto.

Porque os avaliadores e outros especialistas estão sempre com pressa, nossos currículos são mais frequentemente avaliados pelo número de linhas (o número de publicações, como as comunicações, quantos projetos?). Um fenômeno que faz com que uma obsessão com a quantidade na produção científica. O resultado é que também somos incapazes de ler tudo, incluindo as áreas mais avançadas, além do fato de que um grande número de artigos não só nunca são mencionados, mas nunca são lidos, torna-se cada vez mais difícil localizar a publicação ou comunicação que realmente importa – o que o colega terá gasto todo o seu tempo durante meses, às vezes durante anos - entre os milhares de itens duplicados, salsicha, reformatado, quando eles não são mais ou menos ‘emprestados’.

É claro, a nossa formação deve ser sempre ‘inovadora’ obviamente ‘poderosamente estruturado e e adaptado para a ‘evolução do negócio’, alterações que tenham sido de outra forma muito difícil identificar contornos de movimento constante. O resultado nesta corrida à ‘adaptação’, a questão do conhecimento básico para transmitir - o conhecimento que, por definição, não pode ser incluído no termo - não está mais na agenda. O que importa é estar em sintonia com os tempos e especialmente a mudar constantemente para manter o ‘ar’ de que também se está mudando.

Se aceitarmos a gestores de responsabilidades (conselhos universitários, gestão de departamentos ou laboratórios), como todos nós somos obrigados a fazer durante a carreira acadêmica, somos imediatamente obrigados a preencher caso após caso, muitas vezes dando a mesma informação e as mesmas estatísticas, pela enésima vez. Muito mais grave são os efeitos da burocracia invasiva e meetingitis - o último fenômeno por causa das aparências da colegialidade, enquanto esvaziando-a de sua essência geral - significa que ninguém tem tempo para nada: é preciso comentar sobre os pedidos recebidos no mesmo dia para a implementação do dia seguinte! Enquanto nós maquiamos as coisas um pouco ao escrever isso, mas infelizmente não estamos longe.

Esta degeneração dos nossos negócios não é inevitável. Resistir à ciência rápida é possível. Podemos construir uma ciência calma, dando prioridade aos valores e princípios:

- Na universidade, é principalmente de pesquisa que continua a educação, apesar das agressões repetidas de todos aqueles que sonham em parte com a secundarização dessa instituição. É imperativo preservar pelo menos 50% do nosso tempo a esta atividade de investigação, que determina a qualidade de tudo o mais. Em termos concretos, isso implica a rejeição de qualquer tarefa que iria invadir os 50%.

- Pesquisar e publicar enfatizando a qualidade exige que todos se concentrem exclusivamente sobre essas tarefas durante um tempo suficientemente longo. Para esse fim, solicitar a aplicação de períodos regulares sem educação ou de gestão (um semestre de Direito a cada 4 anos por exemplo).

- Não vamos nos concentrar em quantidade no CV. Universidades estrangeiras já dão o exemplo, ao limitar a cinco o número de publicações que podem ser mencionado um candidato a um cargo ou uma promoção (Trimble SW, 2010, ‘Recompensa de qualidade e não quantidade’, Nature, 467:789). Isso implica que, em um colegiado transparente, nos entregamos a métodos e ferramentas para que nossos registros não sejam mais medidos pelo número de publicações, mas dependendo do seu conteúdo.

- Nutrida pela pesquisa, a excelência do ensino é a missão da universidade: transmitir os conhecimentos adquiridos. Devem ser autorizados a ensinar os membros do corpo docente, melhorando suas condições de trabalho (quanto tempo perdido na resolução de problemas práticos e, muitas vezes, triviais que estão fora de suas missões?); reduzindo as tarefas administrativas e reduzindo o tempo gasto com ‘modelos de montagem’. Os famosos ‘modelos’, em particular, poderiam ser limitado à definição do currículo específico para a disciplina na universidade em questão, sem a necessidade de alterar essa configuração a cada quatro anos (ou cinco), como atualmente é o caso.

- Em tarefas de nossa gestão, exigem bastante tempo para estudar os assuntos antes de nós. Agora, no interesse de todos, resta-nos reivindicar o trabalho sobre o conteúdo e rejeitar esta democracia e colegialidade célere de votação sobre questões, nas quais, na melhor das hipóteses, só podíamos voar. Nada nos obriga a submeter-nos à ideologia do gargarejo de emergência com o Departamento e os ‘gerentes’.

- Mais inda, vale a pena lembrar que a nossa vida não pára na universidade e a necessidade de manter algum tempo livre para as nossas famílias, nossos amigos, nosso lazer ...

Se você concorda com estes princípios, assine o texto e apele para a fundação da Ciência do Movimento Slow. Mais importante é tomar o seu tempo antes de decidir fazer ou não!

Joël Candau, 29 de outubro de 2010 (publicado 17 julho de 2011).

*Tradução livre e célere para este apelo.

Carta à Sra. Presidenta Dilma Vana Rousseff

Estimada presidenta,

Leio agora, em um jornal aqui da Bahia, que o solo baiano abrigará duas novas universidades federais. Informam-me, ainda, que a Universidade Federal da Bahia e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, na qual me encontro na condição de professor, serão ampliadas. Além disso, nove outros Institutos Federais Tecnológicos serão criados em diversas cidades deste Estado.
Aplausos! Há tempos os brasileiros dos quatro cantos desses brasis esperam pela democratização do ensino superior, mediante expansão e regionalização de nossas instituições educativas. Nós, os brasileiros pesadamente tributados, aplaudimos essa decisão de V. Exa. E nossa gratidão vem da certeza de que quem não externaliza nenhum reconhecimento deixa de construir o próprio merecimento. E nós queremos fazer por merecer aqueles tributos que nos consomem aproximadamente 4 (quatro) meses de trabalhos anuais!
Entretanto, Sra. Presidenta, esse anúncio se dá em um momento difícil para os professores das Universidades Federais. Como sabe, somos 179 (cento e setenta e nove) mil docentes federais e nos encontramos em um movimento de luta em prol da carreira acadêmica, a qual inclui várias reivindicações perante o Estado brasileiro.
Nossa pauta de reivindicações é extensa, mas compatível com nosso compromisso com a educação e com a manutenção do Brasil rumo à grandeza que ele pode alcançar. Ela inclui as solicitações de que:
1 A função social da universidade seja a definidora das políticas das relações de trabalho docente nas Instituições Federais de Ensino (Ifes);
2 O financiamento público e justo para as Ifes seja estável e compatível com o projeto de expansão com qualidade;
3 As condições de trabalho docente sejam adequadas à observância da regra constitucional que nos pede a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão;
4 A garantia de Carreira Única para todos os docentes das Universidades Federais seja assegurada, evitando-se, assim, que nós, docentes do programa de expansão do ensino superior, venhamos a nos encontrar em uma subclasse em comparação com os professores das universidades que já existiam antes desse programa;
5 A nossa aposentadoria seja integral, pois, nessa fase de nossas vidas, não queremos ter a sensação de que fomos “bons” e “úteis” na ativa, mas descartados como inúteis quando já não podíamos mais trabalhar;
6 Nos seja dada a garantia de condições adequadas para que o conjunto das Ifes cumpra sua responsabilidade de oferecer à sociedade brasileira uma educação pautada na publicidade, gratuidade, pluralidade, democracia, abertura e participação;
7 A contratação do corpo docente pelo Regime Jurídico Único dos servidores federais seja estabelecida como única forma de acesso aos cargos de nossas Ifes;
8 A estabilidade no emprego seja uma regra nos serviços públicos;
9 A isonomia salarial entre cargos públicos compatíveis seja observada com rigor;
10 O caráter público das Universidades Federais e de sua função social evite a sua sistemática privatização e precarização;
11 O Estatuto Jurídico Público para as Universidades Federais seja estabelecido com brevidade;
12 Um sistema de avaliação institucional das Ifes, com caráter autônomo e democrático, seja instituído e de maneira a balizar-se pelo projeto político acadêmico de cada instituição;
13 As condições estruturais e acadêmicas das Ifes sejam garantidas de forma a fazerem frente à função social que deles a sociedade espera;
14 Os Hospitais Universitários mantenham a gratuidade, integralidade e universalidade;
15 Os Restaurantes Universitários e demais setores voltados para o atendimento da comunidade acadêmica e da sociedade sejam realmente públicos, de qualidade e respeitem as diretrizes da democratização do acesso e permanência em nossas instituições;
16 A garantia de destinação de 10% (dez por cento) do Produto Interno Brasileiro (PIB) para a educação seja uma realidade, e não um sonho, uma vez que se trata de recursos dos brasileiros que devem ser revertidos para os brasileiros;
17 O preenchimento de cargos nas Ifes seja feito unicamente pela via do concurso público, evitando-se a precarização da educação superior mediante a contratação de professores substitutos ou de profissionais terceirizados em substituição aos servidores técnico-administrativos de nossas instituições;
18 O congelamento de nossos salários por dez anos seja esquecido, pois nossas necessidades seguem os mesmos cursos das variações conjunturais da economia brasileira e já nos escorcha pesadamente;
19 A criação de Fundações Estatais de Direito Privado seja rechaçada veementemente;
20 A correção de nossos vencimentos seja feita de maneira justa, conforme o PIB e a variação inflacionária, o mais brevemente possível, pois, se ensinamos os caminhos para a justiça cidadã, dela também temos que desfrutar.
Senhora Presidenta, ao lado da segurança e da saúde, a educação é uma área estratégia que não merecia o corte de 3 (três) bilhões a que estamos assistindo. A nação brasileira tem o direito de demonstrar o seu repúdio a esse ato.
Por fim, ao tempo em que a parabenizamos pelos seus esforços no sentido de garantir a expansão do ensino superior público, pedimos, encarecidamente, que a Sra. considere nossos pedidos de mais essas garantias.
Os frutos disso virão mais rápido do que imaginamos. Com eles poderemos consolidar a certeza de que um país grande, sem injustiça e sem miséria, não se faz sem a educação.
Como dizia Paulo Freire "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda".
Nós queremos mudar, Sra. Presidenta!

CFP-UFRB, Amargosa, BA, 11 agosto de 2011.



Prof. Dr. Wilson Correia
Adjunto em Filosofia da Educação

Resposta:

De: infoap@planalto.gov.br
Para: wilsoncorreia@ufrb.edu.br
Enviadas: Quarta-feira, 24 de Agosto de 2011 15:13:35
Assunto: Resposta da Presidência


Prezado Senhor,

Em resposta a sua mensagem, endereçada à Presidenta Dilma Rousseff, informamos que o assunto foi encaminhado ao Ministério da Educação para análise e eventuais providências.

Caso julgue necessário obter informações sobre o tratamento do assunto, recomendamos-lhe escrever ao setor pertinente.

Cordialmente,

Claudio Soares Rocha

Diretoria de Documentação Histórica

Gabinete Pessoal da Presidenta da República





Atenção!

Não responda essa mensagem eletrônica. Esse endereço não é válido. Caso necessite outro contato, poderá fazê-lo na página http://www.planalto.gov.br, clicando na opção 'fale conosco'.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O que é isto, a tristeza?

Saiba qual é a cena mais triste do cinema de todos os tempos

Cientistas elegeram final de O Campeão como a cena mais emocionante das telonas
Quem nunca chorou assistindo à morte do pai do Simba, no Rei Leão ou ao drama de uma família em O óleo de Lourenzo. Filmes com sequências de cortar o coração não faltam no mundo do cinema, porém cientistas da Universidade da Califórnia (EUA) se emprenharam em eleger a cena mais triste da história das telonas.

De acordo com os pesquisadores, o final de O Campeão, filme de 1979, é o mais triste de todos os tempos. Na cena, após uma luta árdua o protagonista morre na frente de seu filho, de apenas 9 anos. O garotinho então derrama todas as suas lágrimas e suplica: "campeão, acorde!".

Para chegar à conclusão, os cientistas Robert Levenson e James Gross selecionaram 78 trechos de filmes, que foram exibidos a cerca de 500 voluntários. As emoções das pessoas que se submeteram ao teste foram observadas e a cena que mais as levou  às lágrimas foi a de O campeão.

Apesar de o estudo ter sido publicado em 1995, até hoje o filme vem sendo utilizado por pesquisadores de todo o mundo para avaliar o 'poder' da tristeza sob o ser humano. Com voluntários que foram submetidos à cena pelo bem da ciência foi descoberto, por exemplo, que pessoas gastam mais dinhero quando estão tristes.
Confira o trecho do filme:

Fonte: Fernanda Machado - Portal Uai
http://www.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_8/2011/08/09/ficha_cinema/id_sessao=8&id_noticia=42352/ficha_cinema.shtml

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A fome: por quê?



Criança lambança

Wilson Correia*

Nunca tomei a iniciativa de tirar o fone do gancho e ligar para o “Criança Esperança”, campanha que todo ano só faz desfilar as “estrelas” da “Vênus Platinada”, a Rede Globo, diante de nossos olhos. Essa emissora, que há anos assalta o bom senso e a inteligência dos brasileiros, com enlatados, novelas, programas de baixíssimo nível, continua defraudando a boa vontade de todos nós, e nos deseducando, quando anuncia que “o dinheiro arrecadado para o UNICEF” pode ser deduzido do Imposto de Renda, quando, na realidade, não pode, porque, no frigir dos ovos, quem figura nesse imbróglio como doadora é a própria “Rede Bobo”. Na verdade, a RG expropria dos verdadeiros doadores o direito de deduzir o que dão do Imposto de Renda.
Mas esse não é o maior mal que essa rede de televisão causa, anualmente, aos brasileiros. Sabemos que as corporações capitalistas –e a RG figura entre as primeiras do mundo no setor das comunicações– funcionam sob a égide da desumana lógica do lucro e da acumulação. São, aliás, os protagonistas principais da expropriação de bens alheios, a começar pela força de trabalho não paga. “Trabalho não pago”, aliás, pela via dos “salários mínimos” ou escorchantes, é a gênese de todo lucro no capitalismo, e que se estende ao repasse de produtos e serviços com larga margem de lucro, sem o que o capitalismo não existiria como modo de produção material da vida.
Em tese, então, uma corporação capitalista é antipática por natureza. Já imaginou o que aconteceria se todos e todas viessem a tomar a grave consciência de que uma empresa só existe e perdura à custa da “expropriação” compulsória, incrustada nas próprias relações diversificadas que os humanos travam no dia-a-dia das sociedades liberais?
Por conta disso, e para não parecer o real monstro que cada empresa, de fato, é, surge a necessidade de “dourar a pílula”, tornar sua presença na sociedade mais aceitável, fazendo crer que ela “faz o bem”, preza os “valores humanos” e ajuda a combater as diversas mazelas –como a fome, o analfabetismo, a doença– existentes na sociedade. Mazelas, diga-se, produzidas pelas próprias ações do capitalismo e de suas corporações. O negócio funciona mais ou menos assim: “Eu crio o faminto, depois saio pedindo dinheiro alheio para matar a fome dele”.
É fácil fazer “Graça com o chapéu alheio”, não é? Se considerarmos isso, a defraudação, o engano e o engodo se ampliam exponencialmente. É por isso que a “Rede Bobo” não é besta, mas, sistematicamente, faz os seus telespectadores de trouxas.
Eu não creio em mudanças de superfície. Você dá o pão hoje e daqui a pouco a fome voltará. Ensinar a produzir o próprio pão é que seria nossa maior tarefa. E, hoje, isso também não está bastando: teríamos que ensinar como se cultiva o trigo e tudo o mais de que se necessita para fazer massa virar pão. O capitalismo é um sistema tão perverso, acintoso e desumano que, para ele, até a fome e a morte dão lucro: servem para controlar os membros da sociedade ativa, aqueles que têm algum ganho e “rebolam” diuturnamente para se manterem vivos.
Não creio que “boa vontade”, “esmolas”, “doações” e nenhum outro tipo de voluntarismo possa ir além da conjuntura, essa superfície das coisas da vida que deixa intacta as estruturas. Para mudar as estruturas –econômicas, políticas e culturais– precisamos de ações que incidam nessas estruturas. E o “Criança Esperança”, como se vê, além de poder ser incluído como uma campanha em favor do lucro individual e fazer o lobo parecer cordeiro, apenas surfa na onda conjuntural de uma sociedade injusta, excludente, realmente desumana até mais não poder.
Por isso não ajudo nada que seja promovido pelas empresas individuais, que só alimentam e falseiam o sentido da propriedade privada.
Reconheço que, moralmente, não posso deixar o faminto morrer de fome. Se ele surge à minha frente, dou-lhe o prato de comida. Sei, porém, que meu ato se esgota na extinção daquela fome ali diante de mim. Sei que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a cada minuto 12 (DOZE) crianças morrem de fome ao redor do mundo. É essa realidade que o “Criança Lambança” da “Rede Bobo” ajuda a esconder. Com o minha conivência e contribuição é que não vai ser. Prefiro lutar contra esse sistema e ser solidário com aqueles e aquelas que, mais castigados pela monstruosidade do Capital e dos Humanos, necessitam de minhas mãos.
Em um grau menorzinho em comparação aos que morrem de fome, eu também sou um explorado do sistema: como posso contribuir para a saúde e a ganância do meu próprio algoz?

*Wilson Correia é Adjunto em Filosofia da Educação no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Fonte: RL
Imagem: http://seteantigoshepta.blogspot.com/

domingo, 7 de agosto de 2011

Estudantes: nem platéia nem palhaços

Wilson Correia*

“Para mim, a educação é simultaneamente um ato de conhecimento, um ato político e um ato de arte...” (Paulo Freire).

Quais as posturas que estudantes universitários podem adotar diante de uma greve de servidores técnico-administrativos ou de professores de uma instituição pública de ensino?
Essa pergunta me assaltou ao tomar conhecimento de uma campanha que está circulando na rede social “Facebook”, intitulada: “Matrícula já! Estudante não é palhaço!”, expressando o posicionamento de universitários de uma instituição federal de ensino superior (a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) cujos servidores (que servem os estudantes) estão em greve.
Uma manifestação bastante crítica sobre o posicionamento dos autores dessa campanha afirma: “...talvez nós, estudantes, estejamos mais na condição de platéia que de palhaços” (Carla Oliveira, Estudante de Filosofia da UFRB). Pelo que entendi, Carla vê os estudantes apenas assistindo à greve, quando poderiam problematizá-la mais a fundo, agir sob a motivação do movimento paredista.
Em carta à população, o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos da UFRB (e da UFBA também) noticia que estão em greve por conta da “Campanha salarial 2011, com garantia de recursos para carreira; Contra o congelamento de salários por 10 anos (PL 549/09); Pelo reposicionamento dos aposentados no Plano de Carreira; A favor da capacitação e qualificação profissional; Contra a privatização do Hospital das Clínicas e Maternidade Climério de Oliveira (MP 520/10); Pela abertura imediata de concursos públicos”.
Quem milita na educação superior conhece essa realidade contra a qual lutam os servidores técnico-administrativos e sabe o quanto são justas suas reivindicações. Creio que os estudantes (servidos pelos técnico-administrativos das federais) também não desconhecem a justeza dessa verdadeira batalha.
No entanto, alguns estão se sentido na condição de palhaços, porque a greve adiou por tempo indeterminado a realização das matrículas. A atenta Carla de Oliveira denuncia a situação cômoda de indiferença perante a greve.
Essas são duas posturas que não combinam, creio, com uma atitude que compreende a educação tal como Freire a caracterizou: como “conhecimento”, “política” e “arte”. Talvez o que a situação atual peça dos estudantes seja o posicionamento político (deixemos o conhecimento e a arte para outra ocasião) perante a greve em tela, o qual poderia levar a conceber a universidade pública como parte do bem comum, do universo daquilo que se situa no mundo do "nosso".
Para tanto, nesse momento, não dá para fazer do “meu umbigo, meu espelho”, em que cada um tenta salvar a própria pele de modo egotista e individualista, segundo a lógica competitiva da sociedade de mercado, em que cada sujeito tem de fazer-se a si mesmo, indiferente ao sentido social da instituição pública de ensino.
Mas a mentalidade privativista da vida tem levado a essa atitude de apatia perante causas, bandeiras e lutas da sociedade e dos movimentos sociais organizados perante o Estado, em nome de uma “servidão voluntária” aos verdadeiros “inimigos” de todos nós, quais sejam: o sistema, o mercado, o capital.
Em face das atuais condições em que nos encontramos nas universidades públicas, um olhar que alcançasse um palmo mais adiante mostraria a necessidade de os estudantes decretarem greve também.
Pena que a dimensão política da educação esteja passando por uma letargia perigosa, da qual já é mais que tempo de acordar. Até porque estudante de universidade pública não está aí para se considerar palhaço, muito menos para se colocar na condição de platéia, como se o que está ocorrendo não tivesse nada a ver com ele.
Vale entender que a universidade pública terá a exata dimensão que a sociedade fizer dela e o seu corpo discente sempre será, para o melhor ou para o pior, um de seus protagonistas principais.
Enfim, a universidade que os filhos de nossos universitários terão será exatamente aquela que esses estudantes estão construindo no dia de hoje. Não creio que “na platéia” ou “fazendo palhaçada” sejam as melhores formas de se construir a universidade da qual as futuras gerações possam se orgulhar.

*Wilson Correia é Adjunto em Filosofia da Educação no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Fonte: RL
Imagem: internet

Perspectivas do sindicalismo nas universidades



Perspectivas do sindicalismo nas universidades


Paulo Cesar Philippi* & Armando de Mello Lisboa**

Resumo: Num país onde nossas lideranças políticas são alheias ao grande significado da universidade pública para a nossa soberania, como entidade responsável não só pela formação de nossos quadros científicos e tecnológicos, mas pela criação, desenvolvimento e socialização do saber, um Movimento Docente (MD) que una uma categoria com uma enorme, mas saudável, pluralidade ideológica, está, sem dúvida, no caminho de acesso para a construção desta soberania. Neste artigo discute-se a história do sindicalismo universitário, desde a sua origem no período da ditadura militar, culminando com o período  atual caracterizado pelo aparelhamento político-partidário dos  sindicatos, pelo distanciamento de nossas lideranças sindicais de suas  bases e, em conseqüência, pelo enfraquecimento do D na defesa das questões fundamentais para os professores.

* PAULO CESAR PHILIPPI é Professor Titular da Universidade Federal de Santa Catarina, lotado no Departamento de Engenharia Mecânica. Com Doutorado em 1980 é pesquisador I-A do CNPq. Foi Secretário Geral da Apufsc-Sindical no período 2008-2010 e, presentemente, é membro do Grupo de Trabalho de Política Sindical da Apufsc (GTPS).

** ARMANDO DE MELLO LISBOA é Professor Associado I da Universidade Federal de Santa Catarina. Com Doutorado em Sociologia Econômica, foi Presidente da Apufsc-Sindical no período 2006-2010 e, presentemente, é membro do Grupo de Trabalho de Política Sindical da Apufsc (GTPS).

Fonte: REA. Íntegra do texto: CLIQUE AQUI.


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

De onde vem o dinheiro?

 

“Como o sistema financeiro mundial criou a dívida

Ao contrário da crença popular, o dinheiro que circula pelo mundo não é criado pelos governos, mas sim pela banca privada em forma de empréstimos, que são a origem da dívida. Este sistema privado de criação de dinheiro tornou-se tão poderoso nos últimos dois séculos que passou a dominar os governos em nível mundial. No entanto, este sistema contém em si próprio a semente da sua destruição e é o que estamos experimentando na crise atual. Dados os seus níveis colossais, trata-se de uma dívida impagável.

O colapso econômico é iminente. Os países mais industrializados do mundo enfrentam uma grande crise da dívida provocada pela crise do crédito de 2008, após a crise das hipotecas imobiliárias e a queda do Lehman Brothers. Estas crises originadas por um colapso do crédito costumam ser muito mais prolongadas e profundas que as crises desencadeadas por um surto inflacionário. Grande parte do mundo enfrenta este tsunami da dívida à beira da bancarrota, como acontece com Grécia, Irlanda e Portugal. No entanto, podemos falar de bancarrota quando estes países possuem enormes riquezas em capital humano e recursos produtivos? De acordo com o atual sistema financeiro, sim. E é por isso que os serviços públicos estão sendo cortados e os bens públicos privatizados.

Ao contrário da crença popular, o dinheiro que circula pelo mundo não é criado pelos governos, mas sim pela banca privada em forma de empréstimos, que são a origem da dívida. Este sistema privado de criação de dinheiro tornou-se tão poderoso nos últimos dois séculos que passou a dominar os governos em nível mundial. No entanto, este sistema contém em si próprio a semente da sua destruição e é o que estamos a experimentar na crise atual: a destruição do sistema financeiro que temos conhecido, dado que não tem nenhum tipo de saída pelas vias convencionais. Dados os seus níveis colossais, trata-se de uma dívida impagável.

Para compreender isto, há que referir que o sistema financeiro tem funcionado sempre como um gigantesco esquema ponzi, onde os novos devedores permitem manter a velocidade do crédito. Se se produz um colapso dos novos devedores, o sistema fica sem a opção de conceder mais crédito e, à medida que esta opção se cristaliza com o tempo, o sistema inteiro entra em colapso e requer injeções de liquidez na esperança de que os fluxos voltem à normalidade. A habituação do dna coletivo à dependência do crédito produziu este retorno à normalidade durante várias décadas. Mas até o dna acusa fadiga e nesta co-dependência ao crédito recorda os sintomas da escravatura: é a escravatura da dívida.

A criação de dinheiro através do sistema de reserva fracionada
Os bancos centrais são os responsáveis pela oferta monetária primária, ou base monetária, conhecida também como dinheiro de alto poder expansivo. Este dinheiro de alto poder expansivo é o que chega aos bancos privados, que são quem o reproduz pela via do crédito. A reprodução do dinheiro original depende da taxa de encaixe, ou reservas mínimas requeridas, que produz o efeito inverso: quanto menor é a exigência de reservas, maior é a quantidade de dinheiro que a banca privada cria. Isto conhece-se como o multiplicador monetário e a sua fórmula, muito simples, é m=1/r, onde m é o multiplicador monetário e r o nível de reservas exigidas em percentagem.

Deste modo, perante um nível de reservas de 50% (r=0,5 na equação), o multiplicador monetário é 2, como era nas origens da banca inglesa no ano de 1630. Se o nível de reservas é de 20%, o multiplicador monetário é 5 e se as reservas exigidas são de 10%, o multiplicador é 10 (m=1/0,1), o que indica que está a multiplicar-se dez vezes a quantidade de dinheiro real oferecida pelo banco central.

Grande parte da desregulamentação financeira promovida desde os anos 80 consistiu em dar aos bancos a maior das liberdades para o montante das suas reservas. Deste modo, a clássica norma de reservas em torno de 10% ou 20% foi reduzida a níveis de 1%, e mesmo inferiores, como aconteceu com Citigroup, Goldman Sach. JP Morgan e Bank of America, que, nos momentos mais sérios, afirmavam ter uma taxa de encaixe de 0,5%, com o qual o multiplicador (m=1/0,005) permitia criar 200 milhões de dólares com um só milhão em depósito. E no período da bolha, as reservas chegaram a ser inferiores a 0,001%, o que indica que por cada milhão de dólares em depósito real, se criavam 1.000 milhões do nada.

Esta foi a galinha dos ovos de ouro para a banca. Uma galinha que era de todas as formas insustentável e que foi assassinada pela própria cobiça dos banqueiros que se aproximaram do crescimento exponencial do dinheiro até que este entrou em colapso, demonstrando que toda a ficção se asfixia na conjectura e nada é senão o que é. A solução que os bancos centrais ofereciam era muito simples: mal havia um aumento da inflação, elevavam a taxa de juro para assim encarecerem o crédito e bloquearem os potenciais novos empréstimos (cortando, desta forma, potenciais novos empréstimos) e incentivando, a taxas mais altas, o “aforro” seguro dos prestamistas.

Entende-se agora o abismo em que estamos e por que razão governos e bancos centrais correm a tapar esses enormes buracos que o dinheiro falsamente criado deixou? Entende-se por que razão a Fed e o BCE correm a resgatar o lixo dos ativos tóxicos criado neste tipo de operações? Se ainda há dúvidas, deixo aqui este vídeo (ver acima) que pode ajudar a compreender parte importante deste fenômeno. Este documento foi realizado em 2006 e contém sérias advertências que não foram ouvidas nem pelos governos nem pelas pessoas. Por algo será".

(*) Artigo publicado em El Blog Salmón, traduzido por Ana Bárbara Pedrosa.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Mesa-redonda no PIBID CFP UFRB 2011


Justiça sem fronteiras

Wilson Correia*

O apoio social mais afirmativo é a justiça.

A pressão de Obama surtiu efeito e o Brasil lançou o programa “Ciência Sem Fronteiras” dia 26 de julho de 2011. Serão 75 mil bolsas de estudo no exterior, a ser usufruídas mediante contato com a "flexibilização curricular". Tem sido assim: país que se rende à incompetência para instaurar a justiça social apela para as cotas.
O sistema de cotas tornou-se um mal necessário ao capitalismo. Enquanto vige esse sistema, temos de conviver com esse mal. Se o sistema fosse capaz de oferecer condições reais de vida digna para todas as pessoas, as cotas já estariam obsoletas.
No entanto, como o propósito é o de amenizar a tensão social causada pela luta de classes que campeia as sociedades liberais, as cotas estão na moda. Esse é o “x” da questão. Como o QI (quem indica) aí é o Estado, os critérios de eleição se tornam cruciais.
Alguns problemas com o programa causam inquietação. Por exemplo: por que priorizar as áreas tecnológicas, lastreadas nas ciências exatas? O Brasil precisa mais de engenheiros do que de seres humanos, homens e mulheres, melhor qualificados?
Outra: por que a segunda língua do programa é o inglês? Por que um programa que se quer inclusivo não dá ao estudante o direito de ele próprio indicar o seu segundo idioma? Ou a “flexibilização curricular” só vale para os idealizadores desse programa? São fartos os exemplos históricos dando conta de que onde as armas não subjugaram, foi a língua que o fez. Se a proficiência em língua inglesa permanecer como critério de inclusão nesse programa, o sistema já não estará selecionando os pré-selecionados, uma vez que só quem estuda nos melhores colégios brasileiros chegam ao domínio desse “segundo idioma”?
Mais: se o idioma está sendo visto como um empecilho, um verdadeiro muro entre os propósitos do programa e a eleição dos participantes nele, por que, por exemplo, o Brasil não bateu o pé exigindo que, nesse projeto, os mestres falem a língua dos alunos? Não seria mais fácil encontrar professores bilíngues invés de exigir isso dos estudantes? Claro: dominar um segundo idioma é decisivo a cidadãos e a nações que querem se firmar diante do mundo... mas, por que o programa não adota a política de acolher a língua do estudante, prevendo que ele faça cursos de aprofundamento nessa sua segunda língua ao longo da participação nos cursos no exterior?
Ainda, se a Educação Básica brasileira não prepara as pessoas para o ingresso no ensino superior público, serão as cotas e a flexibilização curricular que irão corrigir essa distorção? Ora, no capitalismo, as cotas, como tudo mais nessa sociedade de mercado e de competitividade, são apenas para alguns. Enquanto isso, os problemas estruturais desse modelo societário continuarão “como dantes no quartel de Abrantes”.
Por fim, uma última indagação: por que, em lugar de lançar um programa de “Ciência Sem Fronteiras”, o Brasil não investe em construir uma sociedade de “Justiça Sem Fronteiras”, a qual, por oferecer condições dignas de acesso aos bens materiais, culturais e sociais produzidos pelo conjunto da sociedade, viesse a aposentar o sistema de cotas?
Ora, qualquer programa educacional somente ganha concretude quando se lhe agregam os objetivos da terminalidade. O que estamos vendo nesse projeto, além de voltar a alinhar a educação aí prevista ao modo estadunidense de “educar”, é que ele não manifesta a preocupação com a formação humanística, essa que evidencia que o homem, tragado pela tecnologia, agora precisa ser redescoberto pela razão instrumental.
“Justiça social sem fronteiras” é aquilo de que mais necessitamos. Isso, porém, parece estar fora da ordem do dia. Soa loucura externalizar esse desejo. Mas, como disse T. S. Eliot, “Em uma terra de fugitivos, tomar a direção oposta parece estar fugindo”.
Ao querer uma sociedade justa estamos caminhando rumo à utopia? Que mal tem? Enquanto a utopia for necessária, que ela cumpra a sua função de nos ajudar a lutar por uma sociedade que não precise mais de nenhuma utopia.

* Adjunto em Filosofia da Educação no CFP da UFRB.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Vigilância e punição na academia

Wilson Correia

Veja só esta notícia.
Um estudante da Harvard acessou a biblioteca virtual não comercial (“sem fins lucrativos”) e baixou arquivos na ordem de 5 milhões. Cinco milhões de artigos científicos! Trata-se de trabalhos acadêmicos das bases do MIT. Confesso que não entendi esta questão. Um aluno da Harvard “invade” os serviço de biblioteca virtual sem fins lucrativos e baixa 5 milhões de artigos acadêmicos hospedados em seus servidores dentro do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
É bom lembrar que Harvard é a meca acadêmica do mundo corporativo capitalista, em que o “negócio” é o verdadeiro mestre e onde Barack Obama, atual mandatário estadunidense, andou estudando.
Mas, por conta da “invasão do espaço sagrado” do MIT, conexo nos propósitos com Harvard, o acadêmico em questão foi processado, preso e teve de pagar a bagatela de US$ 100 mil (cem mil dólares). Pior: ele ainda pode pegar 35 anos de xilindró! Poderá ver o sol nascer quadrado por conta de sua curiosidade, pressuponho. Vê a razão pela qual há o ditado que diz: “A curiosidade matou o gato”?
Curiosidade no capitalismo só se for para gerar lucro e proteger a lógica insana da acumulação. Ora, artigos acadêmicos são compreendidos como divulgação científica ou filosófica. Existem, de fato, para ser divulgados livremente e sem ônus para quem os acessa (note que a base era “sem fins lucrativos”). Não é pecado, não é crime, não é maldade acessar, baixar e fazer circular materiais dessa natureza.
Artigos científicos, por conta das características anteriormente ditas, não implicam remuneração de direitos autorais, não estão ali para ser tratados como uma mercadoria a mais. São a contraposição do autor à sociedade pela remuneração que essa sociedade lhe destina a título de salário ou rendimentos mensais. Mas, no mundo capitalista...
Essa notícia me embasbacou, mas não me deixou surpreso demais. Já vi gente ser morta a chutes por ter furtado margarina (lembra de Dourados, no Mato Grosso, onde um rapaz foi chutado por 20 pessoas até a morte por ter furtado o pote de margarina?). Gente presa por ter roubado outros potes de manteiga (lembram das domésticas que foram para a cadeia só por quererem a manteiga para melhorar o pão de cada dia?).
Crime famélico, por definição, “roubar para não morrer de fome”, não é pecado, nem crime. "Crime" da curiosidade intelectual, também não. Exceto se você está sob o mando daqueles que se consideram os donos do mundo. Isso no sistema capitalista, onde o “Saber, saber; negócios, à parte!”, sobretudo em Harvard e MIT, templos sagrados do deus Capital.

Sociedade do conhecimento?


Wilson Correia

De início, podemos tentar compreender uma distinção básica entre informação, conhecimento e saber, modalidades letradas e simbólico-culturais de entendimento do mundo, produzidas pelo ser humano. Segundo Charlot, as informações ele as registra em suportes materiais palpáveis externos. O conhecimento, interno, ele o apreende em sua subjetividade, de maneira dinâmica, para sempre ser reelaborado. O saber, intersubjetivo, uma ponte entre o interno e o externo, é constituído por aquelas informações e por aqueles conhecimentos que ele, humano, mobiliza para relacionar-se com o mundo, interagir com os semelhantes, com a sociedade, com o universo e com a vida (CHARLOT, B. “Da relação com o saber: elementos para uma teoria”. Trad. B. Magne. Porto Alegre: Artmed, 2000).
Informação é o dado produzido e registrado. Ela é feita sob a potencialidade e a possibilidade de ser distribuída por diversos canais informativos. A informação está no livro, no jornal, na revista, na internet ou simplesmente em um cartaz à minha frente. Porém, se a informação não recebe um tratamento cognitivo de atribuição de significação, ela para nada serve. É como quando você deixa de abrir sua caixa de e-mail: a informação está lá, ao alcance da mão, mas é como se ela não existisse para você, uma vez que foi abertamente ignorada.
Conhecimento é dado produzido e registrado ao qual já se acrescentou o sentido. Grosso modo, conhecimento é informação significada. Isso quer dizer que você leu, decodificou e compreendeu significativamente o teor da mensagem, tirando-a de sua base informativo-objetiva e transportando-a para seu mundo interno, para o reino de sua subjetividade. Ora, o mundo hodierno é pródigo em produzir informação, mas é mesquinho ao produzir condições de acesso à informação. A desigualdade social promove a distribuição e o acesso desiguais à informação.
Saber é aquela informação e aquele conhecimento que se apresentam ressignificados. Para além da objetividade da informação e da subjetividade do conhecimento, o saber exige a dinâmica relacional da intersubjetividade. Talvez seja por isso que Charlot adverte que o saber implica e oferece condições mediadoras favoráveis ao relacionamento com o mundo. Uma pessoa que não teve acesso à informação sobre “dúzia”, não leu e nem decodificou o sentido de “dúzia”, jamais poderá chegar no mercadinho da esquina e comprar uma “dúzia” de ovos.
Ouço amiúde que “vivemos na sociedade do conhecimento”. Tenho lá minhas dúvidas. Penso, até, que devemos “baixar a bola”. É na sociedade da informação que nos encontramos. E se formos indagar sobre o “onde”, o “quando”, o “o que”, o “por quem”, o “para quem” e o “por quê” das informações que são produzidas, registradas e distribuídas diariamente, nossas análises terão que ser complexificadas ainda mais. Há muito de ideologia, um outro tanto de interesse e mais uma carrada de “segundas intenções” nas informações atualmente disponibilizadas, acessadas ou não. Coisas que são descobertas mediante a articulação entre "texto" e "contexto".
Ora, articular “texto” e “contexto” já não seria mais sequer conhecimento. Talvez estivesse ao nível do saber. E sabedoria é raridade. Sobretudo nesse nosso mundo: da justiça perdida, da liberdade tolhida, da instrumentalização de tudo pelo mercado e da apatia em face da ação qualificada pelo entendimento iluminado pela compreensão. Oxalá as instituições educativas entendessem sua missão, essa que, para além do manuseio da informação, pudesse ser ponte para o conhecimento. Nem falo da escola propiciando a produção de saber: esse depende é de educação geral.

Fonte: RL