quarta-feira, 29 de junho de 2011

Quando teoria é a arma


Wilson Correia

O vocábulo “teoria” tem origem no grego “theórein” e quer dizer assistir, especular, observar. É visão ou maneira de olhar para o existente, o humano, o mundo, a sociedade, uma forma de visão sobre o ser, os fenômenos, os acontecimentos e as relações.
Por seu lado, “arma”, do latim “armus”, dá nome ao instrumento feito para atacar ou defender, para realizar a força e perpetrar ações de poder. Não é sem motivo que os anagramas da palavra “arma” são, entre outras, mara (amarga) e amar. Com uma arma a pessoa pode ir para a ofensiva ou ter de ficar na defensiva.
Desse modo, a teoria como arma implica o uso da razão, do entendimento, do intelecto, do argumento e do discurso para fazer ataques ou empreender defesas. Parece lógico que trabalhos monográficos de conclusão de curso em nosso sistema de ensino superior, de graduação e pós-graduação, tenham o nome de "Defesa". Como só pode haver "defesa" em situações de recebimento de "ataques", não é preciso dizer muito sobre o que esses momentos significam.
E a coisa parece não ser de hoje. Na Grécia antiga, a transformação da razão em arma levou Sócrates à morte e fez Platão se exilar. Mais adiante, conduziu Giordano Bruno à fogueira; na Modernidade, forçou Galileu Galilei a empunhar a abjuração. Isso só para ficar em alguns casos clássicos e mais visíveis nos quadros da História, pois, até nossos dias, ocorrências semelhantes se contam a punhados.
Nessa trilha e investigando a História, talvez venha da Idade Média esse espírito de embate e combate que cerca nossas “Defesas”.
Foi durante a escolástica, ensino de cunho aristotélico da Igreja Católica, que se instaurou o método de ensino baseado no ataque e na defesa, em três momentos básicos, compreendendo: “lectio” (exposição comentada e explicada), “disputatio” (embate teórico pró e a favor) e “determinatio” (indicação da verdade pelo mestre). A autoridade magistral é que determinava o que se poderia considerar correto, certo, seguro e verdadeiro.
Um modo de lidar com o saber e o poder que, de mais a mais, contaminou toda a vida universitária e se arrasta até nossos dias. Lamentavelmente, ainda que com nomes diferentes, a escolástica vige. Ainda empregamos a teoria como arma letal. Nessa perspectiva, aliás, nunca deixamos de ser tão autoridades (ou autoritários?) e tão medievais!

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