domingo, 7 de agosto de 2011

Estudantes: nem platéia nem palhaços

Wilson Correia*

“Para mim, a educação é simultaneamente um ato de conhecimento, um ato político e um ato de arte...” (Paulo Freire).

Quais as posturas que estudantes universitários podem adotar diante de uma greve de servidores técnico-administrativos ou de professores de uma instituição pública de ensino?
Essa pergunta me assaltou ao tomar conhecimento de uma campanha que está circulando na rede social “Facebook”, intitulada: “Matrícula já! Estudante não é palhaço!”, expressando o posicionamento de universitários de uma instituição federal de ensino superior (a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) cujos servidores (que servem os estudantes) estão em greve.
Uma manifestação bastante crítica sobre o posicionamento dos autores dessa campanha afirma: “...talvez nós, estudantes, estejamos mais na condição de platéia que de palhaços” (Carla Oliveira, Estudante de Filosofia da UFRB). Pelo que entendi, Carla vê os estudantes apenas assistindo à greve, quando poderiam problematizá-la mais a fundo, agir sob a motivação do movimento paredista.
Em carta à população, o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos da UFRB (e da UFBA também) noticia que estão em greve por conta da “Campanha salarial 2011, com garantia de recursos para carreira; Contra o congelamento de salários por 10 anos (PL 549/09); Pelo reposicionamento dos aposentados no Plano de Carreira; A favor da capacitação e qualificação profissional; Contra a privatização do Hospital das Clínicas e Maternidade Climério de Oliveira (MP 520/10); Pela abertura imediata de concursos públicos”.
Quem milita na educação superior conhece essa realidade contra a qual lutam os servidores técnico-administrativos e sabe o quanto são justas suas reivindicações. Creio que os estudantes (servidos pelos técnico-administrativos das federais) também não desconhecem a justeza dessa verdadeira batalha.
No entanto, alguns estão se sentido na condição de palhaços, porque a greve adiou por tempo indeterminado a realização das matrículas. A atenta Carla de Oliveira denuncia a situação cômoda de indiferença perante a greve.
Essas são duas posturas que não combinam, creio, com uma atitude que compreende a educação tal como Freire a caracterizou: como “conhecimento”, “política” e “arte”. Talvez o que a situação atual peça dos estudantes seja o posicionamento político (deixemos o conhecimento e a arte para outra ocasião) perante a greve em tela, o qual poderia levar a conceber a universidade pública como parte do bem comum, do universo daquilo que se situa no mundo do "nosso".
Para tanto, nesse momento, não dá para fazer do “meu umbigo, meu espelho”, em que cada um tenta salvar a própria pele de modo egotista e individualista, segundo a lógica competitiva da sociedade de mercado, em que cada sujeito tem de fazer-se a si mesmo, indiferente ao sentido social da instituição pública de ensino.
Mas a mentalidade privativista da vida tem levado a essa atitude de apatia perante causas, bandeiras e lutas da sociedade e dos movimentos sociais organizados perante o Estado, em nome de uma “servidão voluntária” aos verdadeiros “inimigos” de todos nós, quais sejam: o sistema, o mercado, o capital.
Em face das atuais condições em que nos encontramos nas universidades públicas, um olhar que alcançasse um palmo mais adiante mostraria a necessidade de os estudantes decretarem greve também.
Pena que a dimensão política da educação esteja passando por uma letargia perigosa, da qual já é mais que tempo de acordar. Até porque estudante de universidade pública não está aí para se considerar palhaço, muito menos para se colocar na condição de platéia, como se o que está ocorrendo não tivesse nada a ver com ele.
Vale entender que a universidade pública terá a exata dimensão que a sociedade fizer dela e o seu corpo discente sempre será, para o melhor ou para o pior, um de seus protagonistas principais.
Enfim, a universidade que os filhos de nossos universitários terão será exatamente aquela que esses estudantes estão construindo no dia de hoje. Não creio que “na platéia” ou “fazendo palhaçada” sejam as melhores formas de se construir a universidade da qual as futuras gerações possam se orgulhar.

*Wilson Correia é Adjunto em Filosofia da Educação no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Fonte: RL
Imagem: internet

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