segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Sociedade do conhecimento?


Wilson Correia

De início, podemos tentar compreender uma distinção básica entre informação, conhecimento e saber, modalidades letradas e simbólico-culturais de entendimento do mundo, produzidas pelo ser humano. Segundo Charlot, as informações ele as registra em suportes materiais palpáveis externos. O conhecimento, interno, ele o apreende em sua subjetividade, de maneira dinâmica, para sempre ser reelaborado. O saber, intersubjetivo, uma ponte entre o interno e o externo, é constituído por aquelas informações e por aqueles conhecimentos que ele, humano, mobiliza para relacionar-se com o mundo, interagir com os semelhantes, com a sociedade, com o universo e com a vida (CHARLOT, B. “Da relação com o saber: elementos para uma teoria”. Trad. B. Magne. Porto Alegre: Artmed, 2000).
Informação é o dado produzido e registrado. Ela é feita sob a potencialidade e a possibilidade de ser distribuída por diversos canais informativos. A informação está no livro, no jornal, na revista, na internet ou simplesmente em um cartaz à minha frente. Porém, se a informação não recebe um tratamento cognitivo de atribuição de significação, ela para nada serve. É como quando você deixa de abrir sua caixa de e-mail: a informação está lá, ao alcance da mão, mas é como se ela não existisse para você, uma vez que foi abertamente ignorada.
Conhecimento é dado produzido e registrado ao qual já se acrescentou o sentido. Grosso modo, conhecimento é informação significada. Isso quer dizer que você leu, decodificou e compreendeu significativamente o teor da mensagem, tirando-a de sua base informativo-objetiva e transportando-a para seu mundo interno, para o reino de sua subjetividade. Ora, o mundo hodierno é pródigo em produzir informação, mas é mesquinho ao produzir condições de acesso à informação. A desigualdade social promove a distribuição e o acesso desiguais à informação.
Saber é aquela informação e aquele conhecimento que se apresentam ressignificados. Para além da objetividade da informação e da subjetividade do conhecimento, o saber exige a dinâmica relacional da intersubjetividade. Talvez seja por isso que Charlot adverte que o saber implica e oferece condições mediadoras favoráveis ao relacionamento com o mundo. Uma pessoa que não teve acesso à informação sobre “dúzia”, não leu e nem decodificou o sentido de “dúzia”, jamais poderá chegar no mercadinho da esquina e comprar uma “dúzia” de ovos.
Ouço amiúde que “vivemos na sociedade do conhecimento”. Tenho lá minhas dúvidas. Penso, até, que devemos “baixar a bola”. É na sociedade da informação que nos encontramos. E se formos indagar sobre o “onde”, o “quando”, o “o que”, o “por quem”, o “para quem” e o “por quê” das informações que são produzidas, registradas e distribuídas diariamente, nossas análises terão que ser complexificadas ainda mais. Há muito de ideologia, um outro tanto de interesse e mais uma carrada de “segundas intenções” nas informações atualmente disponibilizadas, acessadas ou não. Coisas que são descobertas mediante a articulação entre "texto" e "contexto".
Ora, articular “texto” e “contexto” já não seria mais sequer conhecimento. Talvez estivesse ao nível do saber. E sabedoria é raridade. Sobretudo nesse nosso mundo: da justiça perdida, da liberdade tolhida, da instrumentalização de tudo pelo mercado e da apatia em face da ação qualificada pelo entendimento iluminado pela compreensão. Oxalá as instituições educativas entendessem sua missão, essa que, para além do manuseio da informação, pudesse ser ponte para o conhecimento. Nem falo da escola propiciando a produção de saber: esse depende é de educação geral.

Fonte: RL


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