segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Vigilância e punição na academia

Wilson Correia

Veja só esta notícia.
Um estudante da Harvard acessou a biblioteca virtual não comercial (“sem fins lucrativos”) e baixou arquivos na ordem de 5 milhões. Cinco milhões de artigos científicos! Trata-se de trabalhos acadêmicos das bases do MIT. Confesso que não entendi esta questão. Um aluno da Harvard “invade” os serviço de biblioteca virtual sem fins lucrativos e baixa 5 milhões de artigos acadêmicos hospedados em seus servidores dentro do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
É bom lembrar que Harvard é a meca acadêmica do mundo corporativo capitalista, em que o “negócio” é o verdadeiro mestre e onde Barack Obama, atual mandatário estadunidense, andou estudando.
Mas, por conta da “invasão do espaço sagrado” do MIT, conexo nos propósitos com Harvard, o acadêmico em questão foi processado, preso e teve de pagar a bagatela de US$ 100 mil (cem mil dólares). Pior: ele ainda pode pegar 35 anos de xilindró! Poderá ver o sol nascer quadrado por conta de sua curiosidade, pressuponho. Vê a razão pela qual há o ditado que diz: “A curiosidade matou o gato”?
Curiosidade no capitalismo só se for para gerar lucro e proteger a lógica insana da acumulação. Ora, artigos acadêmicos são compreendidos como divulgação científica ou filosófica. Existem, de fato, para ser divulgados livremente e sem ônus para quem os acessa (note que a base era “sem fins lucrativos”). Não é pecado, não é crime, não é maldade acessar, baixar e fazer circular materiais dessa natureza.
Artigos científicos, por conta das características anteriormente ditas, não implicam remuneração de direitos autorais, não estão ali para ser tratados como uma mercadoria a mais. São a contraposição do autor à sociedade pela remuneração que essa sociedade lhe destina a título de salário ou rendimentos mensais. Mas, no mundo capitalista...
Essa notícia me embasbacou, mas não me deixou surpreso demais. Já vi gente ser morta a chutes por ter furtado margarina (lembra de Dourados, no Mato Grosso, onde um rapaz foi chutado por 20 pessoas até a morte por ter furtado o pote de margarina?). Gente presa por ter roubado outros potes de manteiga (lembram das domésticas que foram para a cadeia só por quererem a manteiga para melhorar o pão de cada dia?).
Crime famélico, por definição, “roubar para não morrer de fome”, não é pecado, nem crime. "Crime" da curiosidade intelectual, também não. Exceto se você está sob o mando daqueles que se consideram os donos do mundo. Isso no sistema capitalista, onde o “Saber, saber; negócios, à parte!”, sobretudo em Harvard e MIT, templos sagrados do deus Capital.

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